segunda-feira, 14 de julho de 2008

!!!J’ai seul la clef de cette parade sauvage!!!

ORQUESTRA DE CÂMARA DO AMAZONAS





Benjamin Britten – Les Illuminations op.18 para tenor e cordas

Benjamin Britten – Serenade op.31 para tenor, trompa e cordas





Direção Musical e regência: Marcelo de Jesus

Solista: Luciano Botelho

Trompa: Wolfgang Ebert

Gravado ao vivo em 13 de setembro de 2007 no Teatro Amazonas

http://rapidshare.com/files/130233488/Serenade_-_Illuminations_-_Britten_-_OCA_-_De_Jesus_-_Botelho.zip

Benjamin Britten
(1913 - 1976)
Britten é o compositor britânico mais conhecido do século 20, graças, sobretudo, à sua ópera Peter Grimes (1945).
Em 1939 mudou-se para os Estados Unidos onde viveu até 1942. Durante este período continuou sua colaboração com Auden em Hymn to St. Cecília e em sua primeira aventura operística logo abandonada, Paul Bunvan.
Na sua volta para Inglaterra realizou turnês e compôs sua famosa ópera Peter Grimes, baseada no poema de George Crabbe. O êxito desta obra converteu o compositor na máxima figura da música inglesa consagrando-o como um compositor internacional de óperas.
A cantata War Requiem, estreada na inauguração da nova catedral de Coventry, reconstruída em 1962, foi concebida em memória das vítimas dos bombardeios alemães sobre a cidade. Por sua vez, o Réquiem era inspirado na Sinfonia do Réquiem, composta imediatamente após a destruição da igreja em 1940, e dedicada às vítimas da guerra sino-japonesa. Em 1947, Britten participou na fundação do English Opera Group, cujo objetivo era a criação e a manutenção de pequenos espaços cênicos. A ópera Gloriana (1953) foi feita para a coroação da rainha Isabel II.


Les Illuminations - Iluminuras
LES ILLUMINATIONS
AS ILUMINAÇÕES
Arthur Rimbaud













( Verlaine e Rimbaud - pintura de Henri Fantin-Latour em 1872)

Em 1938 Britten descobriu a prosa poética do simbolista francês Arthur Rimbaud (18541891) (“infant-terrible”, que recentemente tinha assumido seu caso com Paul Verlaine) provavelmente através de seu amigo W.H.Auden. Altamente carregada de linguagem e imagens coloridas, a obra de Rimbaud inspirou Britten a musicar Les Illuminations, num momento em que ele estava confuso sobre várias relações pessoais, bem como a situação ameaçadora da Europa e, de fato, na sua vida musical na Inglaterra. Britten e Peter Pears partiram para os E.U.A. em maio de 1939 por um período indeterminado. Ele levou com ele o manuscrito do que viria a ser Les Iluminations, que terminou em Amityville, Nova Iorque, em 25 de Outubro de 1938. A estréia foi dada por Sophie Wyss (a quem foi dedicada a obra) com a Orquestra de Cordas Boyd Neel em 30 de Janeiro de 1940, no Wigmore Hall, Londres.
Britten não ouviu a obra até outubro de 1941, quando ele regeu a Orquestra da CBS na estréia americana com seu companheiro, o tenor Peter Pears, como solista.


(Iluminura Francesa do século XIV)

LES ILLUMINATIONS
AS ILUMINAÇÕES

















Der Hornruf (1929) - O trompista renomado
[?Hertha von] Gumppenberg (1897–?)




Fanfarre
J'ai seul la clef de cette parade sauvage.


Fanfarra
Só eu tenho a chave desse desfile selvagem.














Townscape (1967) - Vista da Cidade
José Paulo Moreira da Fonseca (b 1922)

Villes

Ce sont des villes! C'est un peuple pour qui se
sont montés ces Alleghanys et ces Libans de rêve!
Des chalets de cristal et de bois se meuvent sur
des rails et des poulies invisibles. Les vieux
cratères ceints de colosses et de palmiers de
cuivre rugissent mélodieusement dans les feux...




Des cortèges de Mabs en robes rousses, opalines,
montent des ravines. Là-haut, les pieds dans la
cascade et les ronces, les cerfs tettent Diane.
Les Bacchantes des banlieues sanglotent et la
lune brûle et hurle. Vénus entre dans les cavernes
des forgerons et des ermites. Des groupes de
beffrois chantent les idées des peuples. Des
châteaux bâtis en os sort la musique inconnue...
Le paradis des orages s'effondre... Les sauvages
dansent sans cesse la fête de la nuit...

Quels bons bras, quelle belle heure me rendront
cette région d'où viennent mes sommeils et mes
moindres mouvements?


Cidades

Que cidades! É um povo para o qual
foram montados Apalaches e Líbanos de sonho!
Chalés de cristal e madeira deslizam sobre
trilhos e polias invisíveis. Crateras ancestrais
circundadas de colossos e palmeiras
de cobre rugem melodiosamente dentro dos fogos...
Cortejos de Mabs em robes russos, opalinas,
trepam nas ravinas. E lá em cima, as patas
nas sarças e cascatas, cervos sugam os seios de Diana. Bacantes de suburbio soluçam e a
lua queima e uiva. Vênus penetra nas cavernas
de ferreiros e eremitas. Torres de sinos
cantam as idéias das pessoas. A música
desconhecida escapa dos castelos de ossos.
O paraíso de tempestades despedaça... Selvagens
dançam sem cessar a festa da noite...

Que braços bons, que hora adorável vão me devolver essa região de onde vêm meus sonos e meus movimentos mais sutis?


Firmament over a Frozen Lake (2003) - Firmamento sobre um lago congelado
Keith Grant (b 1930)

Phrase

J'ai tendu des cordes de clocher à clocher; des
guirlandes de fenêtre à fenêtre; des chaînes d'or
d'étoile à étoile, et je danse.

Frase
Estendi cordas de campanário a campanário; guirlandas de janela a janela; correntes de ouro de estrela a estrela, e danço.



Fotografia de Benjamin Britten e o "Fauno"(1966)
O "Fauno" é uma das esculturas favoritas de Britten.




Antiques

Gracieux fils de Pan! Autour de ton front couronné
de fleurettes et de baies, tes yeux, des boules
précieuses, remeunt. Tachées de lies brunes, tes
joues se creusent. Tes crocs luisent. Ta poitrine
ressemble à une cithare, des tintements circulent
dans tes bras blonds. Ton coeur bat dans ce ventre
où dort le double sexe. Promène-toi, la nuit, la nuit en
en mouvant doucement cette cuisse, cette seconde
cuisse et cette jambe de gauche.

Antigo

Gracioso filho de Pan! Em volta de tua fronte coroada
de florzinhas e bagas teus olhos,
gemas preciosas, se movem. Manchada de fezes cinzas,
a cova das faces. Tuas presas reluzem. Teu peitinho
parece uma cítara, sininhos circulam
no bronze dos teus braços. Teu coração bate nesse ventre onde dorme o duplo sexo. Passeie pela noite,
mexe essa coxa, docemente, mexe essa outra,
e essa perna torta.

Desenhos para uma produção desconhecida do Royal Opera House(Sem data definida)

Royauté

Un beau matin, chez un peuple fort doux, un homme
et une femme superbes criaient sur la place
publique: "Mes amis, je veux qu'elle soit reine!"
"Je veux être reine!" Elle riait et tremblait. Il
parlait aux amis de révélation, d'épreuve terminée.
Ils se pâmaient l'un contre l'autre.

En effet ils furent rois toute une matinée où les
tentures carminées se relevèrent sur les maisons,
et toute l'après-midi, où ils s'avancèrent du côté
des jardins de palmes.

Realeza

Numa bela manhã, em meio a gente doce, um homem
e uma mulher soberbos gritavam pela praça pública: “Amigos, quero que ela seja rainha!”
“Quero ser rainha!” Ela ria e tremia.
Ela falava aos amigos de revelação, de uma provação terminada. Eles desmaiavam um no outro.

De fato, eles foram reis por uma manhã inteira, em que tapeçarias carminadas se estenderam sobre as casas, e a tarde inteira, em que eles avançaram do lado do jardim de palmeiras.

Milane [Kites] (1955) - Pipas
Gerhard Marcks (1889–1981)

Marine

Les chars d'argent et de cuivre -
Les proues d'acier et d'argent -
Battent l'écume, -
Soulèvent les souches des ronces.
Les courants de la lande,
Et les ornières immenses du reflux,
Filent circulairement vers l'est,
Vers les piliers de la forêt,
Vers les fûts de la jetée,
Dont l'angle est heurté par des tourbillons de lumière.




Marinha

As carroças de cobre e prata -
As proas de prata e aço -
Espalmam espumas -
Esgarçam maços de sarças.
As correntezas da roça,
e os sulcos imensos do refluxo,
fluem em círculos rumo a leste,
Rumo às hastes da floresta,
Rumo aos fustes do quebramar,
Cujo ângulo é ferido por turbilhões de luz.


Les Illuminations (1871–3)
Arthur Rimbaud (1854–1891)
Anotação de Britten, ressaltando a escolha do texto para as duas canções "Phrase"



Interlude

J'ai seul la clef de cette parade sauvage.

Interlúdio

Só eu tenho a chave desse desfile selvagem.





Arabesque [II] (n.d.)
Robin Davis (b 1928)
Peter Pears adquiriu esta e mais uma outra obra de Robin Davis em 1961 ou 1962

Being Beauteous

Devant une neige un Être de Beauté de haute taille.
Des sifflements de mort et des cercles de musique
sourde font monter, s'élargir et trembler comme un
spectre ce corps adoré: des blessures écarlates et
noires éclatent dans les chaires superbes. Les
couleurs propres de la vie se foncent, dansent, et
se dégagent autour de la Vision, sur le chantier.
Et les frissons s'élèvent et grondent, et la
saveur forcenée de ces effets se chargeant avec
les sifflements mortels et les rauques musiques
que le monde, loin derrière nous, lance sur notre
mère de beauté, - elle recule, elle se dresse. Oh!
nos os sont revêtus d'un nouveau corps amoureux.

* * * * * * * *

O la face cendrée, l'écusson de crin, les bras de
cristal! Le canon sur lequel je dois m'abattre à
travers la mêlée des arbres et de l'air léger!

Ser Belo

Diante de uma neve, um Ser de Beleza de alto talhe. Sibilações de morte e os círculos de música
surda levitam seu corpo adorado, e ele se expande e treme como um espectro; feridas escarlates
e negras rebentam nas carnes soberbas. As
cores próprias da vida ficam foscas, dançam
e se desatam ao redor da Visão, sobre o estaleiro.
E os frissons se elevam e rugem, e o
sabor delirante desses efeitos se estocam com
as sibilações de morte e as músicas roucas que o mundo,
ao nosso encalço, lança sobre nossa mãe de beleza, -
ela levanta, ela recua. Oh!
nossos ossos revestidos por um novo corpo de amor.

* * * * * * * * * *

Ó face cinza, escudo de crina, braços
de cristal! O canhão que atiro nessa briga
das árvores com a brisa!

Foliate Heads I (1953) Cabeças Folheadas
John Piper (1903–1992)


Parade

Des drôles très solides. Plusieurs ont exploité vos
mondes. Sans besoins, et peu pressés de mettre en
oeuvre leurs brillantes facultés et leur expérience
de vos consciences. Quels hommes mûrs! Des yeux
hébétés à la façon de la nuit d'été, rouges et
noirs, tricolorés, d'acier piqué d'étoiles d'or;
des facies déformés, plombés, blêmis, incendiés;
des enrouements folâtres! La démarche cruelle des
oripeaux! Il y a quelques jeunes...

O le plus violent Paradis de la grimace enragée!...
Chinois, Hottentots, bohémiens, niais, hyènes,
Molochs, vieilles démences, démons sinistres, ils
mêlent les tours populaires, maternels, avec les
poses et les tendresses bestiales. Ils interpréte-
raient des pièces nouvelles et des chansons "bonnes
filles". Maîtres jongleurs, ils transforment le
lieu et les personnes et usent de la comédie
magnétique...

J'ai seul la clef de cette parade sauvage.

Desfile

Patifes sólidos. Muitos já exploraram vossos
mundos. Sem carências, e pouca pressa em aplicar
suas brilhantes faculdades e sua experiência de
vossas consciências. Que homens maduros!
Olhos vidrados como noite de verão, vermelhos
e negros, tricolores, aço salpicado de estrelas douradas; faces disformes, plúmbeas, pálidas, em brase; rouquidões burlescas! Os passos cruéis dos ouropéis! - Alguns são jovens -

Oh o mais violento Paraíso de careta furiosa!
Chineses, Hotentotes, ciganos, otários, hienas,
Moloques, velhas demências, demônios sinistros,
misturam os modos populares, maternais, com poses
e ternuras bestiais. Interpretariam
peças novas, canções “para
moças”. Mestres jograis, eles transformam o
lugar e as pessoas, e usam a comédia
magnética...

Só eu tenho a chave desse desfile selvagem.

The Great Happiness (1965) - A Grande Felicidade
Cecil Collins (1908–1989)

Départ

Assez vu. La vision s'est rencontrée à tous les airs.
Assez eu. Rumeurs de villes, le soir, et au soleil, et toujours.
Assez connu. Les arrêts de la vie. O Rumeurs et Visions!
Départ dans l'affection et le bruit neufs!

Partida

Vi demais. A visão se revia pelos ares.
Tive demais. Sons de cidade, à tarde, e ao sol, e sempres.
Soube demais. As paradas da vida. - Ó Sons e Visões!
Partida entre afetos e ruídos novos!




tradução: Rodrigo Garcia Lopes
Maurício Arruda Mendonça


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A Serenata para Tenor, Trompa e Cordas é um ciclo de canções escritas em 1943, durante a segunda guerra mundial ao pedido do trompista Dennis Brain.
A Serenata consta de seis poemas de poetas britânicos com o tema da “noite”, incluindo os seus mais sinistros aspectos.
O Prólogo e Epílogo tem apenas solo de trompa, em harmônicos naturais, sendo que no epílogo o trompista deve soar, fora do palco, o mais distante possível.
A Serenata foi dedicada e estreada por Peter Pears, companheiro de Britten.










Serenata

Trompa restaurada de Dennis Brain


Prologue
Prólogo

(Solo de trompa)







Pastoral
The day’s grown old; the fainting sun
Has but a little way to run,
And yet his steeds, with all his skill,
Scarce lug the chariot down the hill.
The shadows now so long do grow,
That brambles like tall cedars show;
Mole hills seem mountains, and the ant
Appears a monstrous elephant.
A very little, little flock
Shades thrice the ground that it would stock;
Whilst the small stripling following them
Appears a mighty Polypheme.
And now on benches all are sat,
In the cool air to sit and chat,
Till Phoebus, dipping in the west,
Shall lead the world the way to rest.

Charles Cotton (1630-1687)


O envelhecer do dia;
O cair do Sol.
Tem seu caminho curto a percorrer...
E com toda habilidade seus cavalos e carroças
Escasseiam-se montanha abaixo!
As sombras crescem tanto que os arbustos
Mostram-se como cedros...
Pequenas casas de toupeira sobre a terra transformam-se em montanhas
E uma formiga parece um monstruoso elefante.
Um pequenino rebanho
Aparenta ser três vezes maior do que o chão que o acolheria
Enquanto isso um pequeno pastor segue-o
Parecendo o poderoso Polifemo.
Agora, eles estão sentados sobre os bancos
No ar fresco, repousando e conversando....
Ate que Febo mergulhando no oeste
Leve o mundo ao caminho do descanso.


Noturno
Nocturne

The splendour falls on castle walls
And snowy summits old in story:
The long light shakes across the lakes,
And the wild cataract leaps in glory:
Blow, bugle, blow, set the wild echoes flying,
Bugle blow; answer, echoes, dying, dying, dying.
O hark, O hear! how thin and clear,
And thinner, clearer, farther going!
O sweet and far from cliff and scar
The horns of Elfland faintly blowing!
Blow, let us hear the purple glens replying:
Blow, bugle; answer, echoes, dying, dying, dying.
O love, they die in yon rich sky,
They faint on hill or field or river:
Our echoes roll from soul to soul,
And grow for ever and for ever.
Blow, bugle, blow, set the wild echoes flying,
And answer, echoes, answer, dying, dying, dying.

Alfred, Lord Tennyson (1809-1892)



O esplendor cai sobre as paredes do Castelo
Cobrindo de neve seus antigos cumes
A longa luz estremece através do lago
E a selvagem catarata salta gloriosamente
Sopre, trompa, Sopre!
Toque seu selvagem eco voador....
Trompa, toque,
Responda, eco, responda,
Morrendo, morrendo, morrendo...
Oh ouça, escute! Quão claro e fino
Tornando-se ainda mais claro e fino
indo ao longe....
Doce e longe do penhasco e do planalto
As trompas dos Elfos suavemente soprando!
Sopre e deixe-nos ouvir
O imperial vale responde
Sopre, trompa,
Responda, eco, responda,...
Morrendo, morrendo,morrendo.
Oh amor, eles morrem logo ali no rico céu
Eles se enfraquecem sobre o monte ou campo ou ate mesmo sobre o rio,
Nosso eco passa de alma para alma
E cresce para sempre e sempre.
Sopre, trompa, sopre,
Toque seu selvagem eco voador....
Responda, eco, responda,
Morrendo, morrendo, morrendo,
Morrendo, morrendo, morrendo...


Elegia
Elegy

O Rose, thou art sick!
The invisible worm,
That flies in the night
In the howling storm,
Has found out thy bed
Of crimson joy:
And his dark secret love
Does thy life destroy.

William Blake (1757-1827)

Oh Rosa, tu arte doente,
O Inseto invisível que voa na noite,
Na estrondosa tempestade,
Encontrou regozijo na cama carmesim.
E seu negro, secreto amor
Tua vida destrói!


Lamentação (música de funeral)
Dirge


This ae nighte, this ae nighte,
Every nighte and alle,


This ae nighte, this ae nighte,
Every nighte and alle,
Fire and fleete and candle-lighte,
And Christe receive thy saule.

When thou from hence away art past,
Every nighte and alle,
To Whinnymuir thou com'st at last;
And Christe receive thy saule.

If ever thou gav'st hos'n and shoon,
Every nighte and alle,
Sit thee down and put them on;
And Christe receive thy saule.

If hos'n and shoon thou ne'er gav'st nane,
Every nighte and alle,
The winnies shall prick thee to the bare bane;
And Christe receive thy saule.

From Whinnymuir when thou may'st pass,
Every nighte and alle,
To Brig o' Dread thou com'st at last;
And Christe receive thy saule.

From Brig o' Dread when thou may'st pass,
Every nighte and alle,
To Purgatory fire thou com'st at last;
And Christe receive thy saule.

If ever thou gav'st meat or drink,
Every nighte and alle,
The fire shall never make thee shrink;
And Christe receive thy saule.

If meat or drink thou ne'er gav'st nane,
Every nighte and alle,
The fire will burn thee to the bare bane;
And Christe receive thy saule.

This ae nighte, this ae nighte,
Every nighte and alle,
Fire and fleete and candle-lighte,
And Christe receive thy saule.

Anonymous, 15th century


Nesta noite Durante toda a noite,
Queima cintilante a luz da vela,
E Cristo recebe tua alma.
Quando tu ao longe já fizeste a arte da passagem,
Durante toda noite,
O teu último gemido de vida vem ao fim,
E Cristo recebe tua alma.
Se sempre destes de vestir e de calcar,
Durante toda a noite
Prepare-se para tê-los de volta,
E Cristo recebe tua alma,
Se não destes de vestir e de calcar,
Durante toda noite,
Os gemidos serão como ferroadas
Abrindo tua carne ate os ossos
E Cristo recebe tua alma.
Dos gemidos onde tu passarás
Durante toda noite,
Até o medo cabal,
E Cristo recebe tua alma.
Do medo da morte onde tu passarás
Durante toda noite,
Até o fogo do purgatório que virá no fim
E Cristo recebe tua alma.
Se sempre deste de comer e de beber
Durante toda a noite
As chamas não te consumirão
E Cristo recebe tua alma
Se não deste de beber e de comer
Durante toda noite,
As chamas consumirão tua carne até os ossos.
Nesta noite
Nesta noite, durante toda noite,
Queima cintilante a luz da vela,
E Cristo recebe tua alma.


Hino
Hymn
Queen and huntress, chaste and fair,
Now the sun is laid to sleep,
Seated in thy silver chair,
State in wonted manner keep:
Hesperus entreats thy light,
Goddess excellently bright.
Earth, let not thy envious shade
Dare itself to interpose;
Cynthia’s shining orb was made
Heav’n to clear when day did close:
Bless us then with wishèd sight,
Goddess excellently bright.
Lay thy bow of pearl apart,
And thy crystal shining quiver;
Give unto the flying hart
Space to breathe, how short so-ever:
Thou that mak’st a day of night,
Goddess excellently bright.

Ben Jonson (1572-1637)


Rainha e caçadora
Puro e justo
Agora o sol deita-se pra dormir,
Sentado sobre sua cadeira prateada,
Como habitualmente o faz,
Héspero roga a tua luz,
Héspero roga tua luz,
Deuses, deuses, deuses,
De iluminada excelência.
Terra não deixe sua invejosa sombra
Ousar interpor-se
A brilhante órbita de Cyntia
Que Foi feita para clarear o céu quando o dia se põe
Abençoando-nos com sua almejada imagem.
Deuses, deuses, deuses,
De iluminada excelência.
Teu arco de perola repousa distante,
Teus cristalinos raios brilhantes
Da ao coração voador
Espaço para respirar,
Quão curto, no entanto.
Tu que fazes da noite dia
Tu que fazes, tu,
Deuses, deuses, deuses,
De iluminada excelência.





Soneto
Sonnet
O soft embalmer of the still midnight,
Shutting with careful fingers and benign,
Our gloom-pleas'd eyes, embower'd from the light,
Enshaded in forgetfulness divine:
O soothest Sleep! if so it please thee, close
In midst of this thine hymn my willing eyes,
Or wait the "Amen" ere thy poppy throws
Around my bed its lulling charities.
Then save me, or the passèd day will shine
Upon my pillow, breeding many woes, -
Save me from curious Conscience, that still lords
Its strength for darkness, burrowing like a mole;
Turn the key deftly in the oilèd wards,
And seal the hushèd Casket of my Soul.

John Keats (1795-1821)

Oh doce embalsamador do silêncio noturno,
Fechando com cuidadosos e gentis dedos
Nossos embaçados olhos encobertos da luz
Sombreados pelo perdão divino.
Oh! Imaculado sono, se isso lhe agrada
Feche no meio desse seu hino meus prontos olhos,
A espera do amém.
Onde as flores postas ao redor da minha cama
Embalam-me caridosamente.
Nesse momento salve-me, salve-me,
Ou os dias que se passam brilharão sobre meu travesseiro
Produzindo muitas feridas,
Salve-me, salve-me, salve-me,
Da curiosa consciência que ainda é senhora.
Sua tenebrosa força me enclausura.
Gire habilmente a chave do preparado abrigo
E sele o silencioso esquife da minha alma.


Versão para língua portuguesa; Michele Sodré e Luciano Botelho